31 Mai 2023
O bispo Khulekani Sizwe, da Igreja Evangélica Luterana na África Austral, pediu às igrejas-membro da Federação Luterana Mundial (FLM) que deem mais oportunidades aos jovens na atuação de defesa da justiça climática. Como jovens são uma parcela populacional que está entre os mais atingidos pelas mudanças climáticas, cabe-lhes esse lugar.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O apelo foi proferido no encontro preparatório das igrejas luteranas da África, reunidas em maio em Nairóbi, para a 13ª Assembleia da FLM, que terá lugar de 13 a 19 de setembro, em Cracóvia, na Polônia, sob o tema Um Corpo, Um Espírito, Uma Esperança.
No encontro, o presidente do organismo ecumênico, Panti Flibus Musa, um africano, lamentou que o espaço de manobra democrática e da sociedade civil esteja diminuindo em muitos países do continente. A voz profética da igreja, frisou, é urgente e necessária para mostrar uma nova direção e promover a paz e os direitos humanos.
Também destacou que muitas pessoas fogem da violência, sendo forçadas a viver em condições insuportáveis em campos internos de deslocados. Tal realidade afeta negativamente a identidade de crianças nascidas nos campos. “Esses desafios estão destruindo as estruturas sociais e a estabilidade social, levando ao medo e perda de vidas”, afirmou.
Do outro lado, ao norte do Atlântico, 21 organizações, entre elas a FLM, encaminharam uma petição ao Grupo de Trabalho Interagências, reunida em 24 de maio em Nova York, solicitando às agências doadoras globais a considerarem “o impacto da injustiça climática” no Chifre da África. Pediram que elas promovam a necessária assistência financeira para atender as necessidades humanitárias imediatas e de longo prazo na Etiópia, no Quênia e na Somália. Mais de 35 milhões de pessoas precisam de ajuda. Os três países sofrem, atualmente, com a pior seca já registrada na região.
As organizações signatárias reportaram-se ao relatório da ONU, indicando que cerca de 43 mil pessoas morreram como resultado da seca apenas na Somália no ano passado, metade das quais acredita-se que sejam crianças de menos de cinco anos.
Segundo o relatório da ONU, cinco milhões de pessoas deslocaram-se internamente no Quênia, na Etiópia e na Somália. Desse total, 2,3 milhões saíram de seus habitats por causa de desastres naturais, e outros 2,7 milhões fugiram de conflitos e ambientes violentos. Cerca de 23,8 milhões de pessoas na região passam fome.
A crise alimentar também motivou um pronunciamento do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), reunido em Genebra nos dias 22 a 26 de maio, que instou seus pares e a comunidade internacional a agir agora, antes que mais vidas sejam perdidas.
Em 2022, apontaram, com base no recém-lançado Relatório Global sobre Crises Alimentares 2023, 258 milhões de pessoas, em 58 países e territórios, tiveram insegurança alimentar aguda, número que aumentou comparado ao ano anterior, quando o número de pessoas vivendo nessas condições somou 193 milhões, em 53 países e territórios.
“É o quarto ano consecutivo em que a população global enfrenta altos níveis de insegurança alimentar, com graves consequências, especialmente para crianças e mulheres, que são invariavelmente afetadas de forma desproporcional”, lembra o CMI. “Infelizmente, o financiamento de emergência adicional muitas vezes só é mobilizado quando muitas vezes é tarde demais para evitar impactos humanitários graves”, lamentou.
Os casos mais graves de crise alimentar, de momento, encontram-se em Sudão do Sul, Síria, Iêmen, Haiti, Afeganistão, República Centro-Africana, Líbano, Somália e Namíbia. "A situação em muitos contextos só se deteriorou nesse ínterim, notavelmente no Sudão, onde 24% de sua população já estava passando por severas condições de crise alimentar antes da eclosão da guerra civil em abril de 2023", diz o comunicado.
Muitas vezes são as igrejas as primeiras a responder às crises alimentares emergentes, mas seus recursos e capacidades são limitados e ficam aquém das necessidades. O CMI constata que o déficit de financiamento e apoio humanitário internacional está aumentando. Daí a exortação à comunidade internacional para que não espere a crise se agravar.
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Mudança climática preocupa igrejas no continente africano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU